sexta-feira, março 17, 2006

Sonho de Inverno I

Homem de bigode preto e mulher aterrorizada, ambos na sala de um apartamento pequeno em uma tarde de décadas atrás. A mulher suspira; da curva de seus olhos salta uma gota d’água, e depois outra, e outra, até que se desmancha em prantos. Sua boca se abre; parece que irá soluçar. Mas não, ela pronuncia uma palavra, apenas uma. A cabeça salta para trás, pipocando no encosto da cadeira, ao mesmo tempo em que urra como um porco em agonia. A mão do homem abaixa, veias saltadas e leve tilintar. Ela se levanta, faz menção de sair, e de fato sai pela porta de entrada. O homem a segue; ela se dirige com certa dificuldade às escadas; não, é claro, por causa de seu rosto: não se anda com as faces. Havia algo mais. Ela abraça sua própria cintura, enquanto se dirige novamente para o homem, e pronuncia mais uma palavra, esta dita com certa ironia, ao que parece. Seu ombro despenca para o vazio, arrastando consigo o resto de seu corpo. Ela rola as escadas, e cai desacordada.

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