quinta-feira, junho 19, 2008

Palavra do Presidente


"Mais vale uma jurisprudência firme, apesar de equivocada, à inconstância de juízes perplexos e indecisos. Devemos nos livrar da arrogância que nos transforma em donos da verdade e nos conduz à tentação de rever sempre e sempre a interpretação das leis."


Discurso do Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros, Presidente do Superior Tribunal de Justiça desta República do Bananão, durante a posse dos três novos integrantes desta Corte, Geraldo Og Fernandes, Luís Felipe Salomão e Mauro Campbell.


Traduzindo...


Se errarem, errem com convicção. Mais vale uma mentira convicta, que uma verdade mal sustentada. Não analisem o caso concreto, não se detenham nas peculiaridades do processo, julguem às canetadas, sejam rápidos, concisos, produtivos. E, se lhes questionarem, apenas acenem, laconicamente, com breves palavras, que faltam servidores, e sobram processos.


Palavra do Presidente.


Amém.

terça-feira, junho 05, 2007

Premissa Maior, Premissa menor, Conclusão.


"Até quatro meses de gravidez, não existe quase nada"

Gisele Bündchen no Rio


Deveras.


Após quatro meses e um dia, existe quase alguma coisa.

Após quatro meses e quinze dias, existe alguma coisa.

Após cinco meses, existe quase alguém.

Após sete meses, ainda não existe alguém, mas estamos quase lá.

Após oito meses, quinze dias, três horas e dois segundos, estamos próximos de dizer que há alguém.

quarta-feira, maio 30, 2007

Receita da cozinha politicamente incorreta: como explicar para um ateu que ele possui uma alma

A dica de hoje é super fácil. Basta que, primeiramente, o nefasto ser compreenda que há algo que diferencia os homens e demais criaturas vivas dos minerais e outros seres inanimados (o que não será simples, bem sei). A princípio, chamaremos esse algo de alma (no sentido de princípio que anima as coisas; que lhes confere movimento próprio). Se o jaburu ficar escandalizado com a palavra e rasgar as vestes, não se assustem: esta é uma reação muito comum.

Depois disso, você tem uma árdua tarefa pela frente: explicar para ele que existe uma grande diferença entre a inteligência humana e a animal. Esta é do tipo sensível concreta (mais precisamente, associativa), o que quer dizer que os animais são despertados por seus instintos e agem de acordo com eles como resultado do processamento de imagens que lhes são fornecidas pelo meio em que estão. Ora, grande parte da inteligência humana é associativa, mas não podemos dizer que toda ela o seja. O homem possui também uma inteligência racional abstrata, pois consegue captar as essências das coisas por um processo chamado abstração. Falei grego? Pois então vamos explicar o que são as tais essências.

A essência é aquilo que faz algo ser uma coisa e não outra. Se encontrarmos um animal grande, com crina, rabo e quatro patas diremos que é um cavalo, e não um cachorro. Assim, o conceito de cavalo corresponde à sua essência, da qual os acidentes (cor, tamanho, etc.) são retirados para sua obtenção.

Em terceiro lugar, temos de convencer o ateu de que a essência é abstrata (termo que provavelmente não será encontrado em seu léxico), ou seja, que não é sensível e que, ao mesmo tempo, é imutável (a essência do cavalo não está sujeita ao tempo) e a-espacial (não ocupa um lugar). Agora vá com muito cuidado, pois a reação do infeliz pode não ser muito agradável. Você terá de perguntar-lhe como nós, que temos os sentidos estruturados para captar mecanicamente a realidade material do universo, somos capazes de abstrair realidades como as essências, que são imateriais, atemporais e a-espaciais. Isto poderá causar, como já foi observado, alguns chiliques, mas estes não serão nada comparados com o que vai acontecer quando você der a resposta. Portanto, esteja preparado e tenha um copo de água com açúcar na mão.

A única coisa que responde a isso é que o ser humano tem de ter um sentido que seja conatural às características das essências, ou seja, algo imaterial, atemporal e a-espacial, e que corresponde ao que chamamos de espírito.

Mas, se ainda assim o ateu se recusar a acreditar que a alma existe, então lhe exponha o problema da linguagem, que se resume em como o homem, através de poucas palavras, consegue expressar um número infinito de representações. Com efeito, é somente pela linguagem que a capacidade de abstração de um ser pode ser provada, e disto decorre que, se apenas o ser humano possui linguagem, logo somente ele possui espírito.

Ah.... mas ele ainda não se convenceu? Então lhe diga que apenas o homem possui uma vontade livre, capaz de transcender os impulsos que naturalmente possui em busca de um ideal que julga estar acima da satisfação destes instintos. Quer dizer: se você já viu um cachorro fazer regime, ou uma vaca que leve uma vida ascética, ou um boi que seja casto, então pule de alegria: você acabou de descobrir o que em milhares de anos a humanidade não foi capaz de perceber, ou seja, que os animais também tem alma.

Mas ele é insistente, teimoso, e burro como uma porta. Diz-lhe que tudo é relativo, que os animais também são gente, que você é muito orgulhoso pensando que só os homens possuem uma alma. Então lhe responda, numa derradeira tentativa, que somente o homem possui reflexividade, que é a capacidade de voltar-se para si mesmo, de perceber que existe um eu. Do fato de que o ser humano possui consciência (reflexividade), ao contrário dos outros animais, resultam diversas observações. Por exemplo, se você já viu um passarinho cometer suicídio, esta é outra das grandes descobertas que podem levar ao Nobel.

Contudo, é possível que o ateu não se tenha convencido, e que você esteja cansado de tentar fazer com que ele se dê conta de que o céu é azul e o mar é salgado. A única coisa que resta fazer, então, é uma longa e pausada reverência, uma virada de costas, uma abaixar as calças, e um soltar um peido bem grande. E veja se ao menos nisto ele consegue acreditar.

terça-feira, maio 29, 2007

Falsidade

Um sorriso, leve contração da face. Todas as reações meticulosamente engenhadas, exaustivamente ensaiadas, dolorosamente vividas. Aí mesmo, onde observas o teu companheiro, onde auscultas os teus pensamentos, onde te feres com a mais asquerosa servidão, para, enfim, conheceres a tua impotência, aí mesmo é que a grande epopéia da vida se escreve em versos alexandrinos. Esses versos que não passam de vexatórios poemas em branco.

- És sobra desgarrada – escória – ai de ti! – ser delével, subnihil, proscrito de si mesmo.

segunda-feira, julho 03, 2006


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domingo, junho 25, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Final

Kissinger continua em outra parte do documento:

“As ações construtivas que os EUA tomarem ajudarão a promover os nossos objetivos. Para isso devemos:
a) Apoiar firmemente o Plano Mundial de População e a adoção das suas cláusulas apropriadas nos programas nacionais e outros.
b) Incentivar os programas nacionais a adotarem metas populacionais específicas que incluam os níveis de substituição da fertilidade para os países desenvolvidos e os menos desenvolvidos.
c) Iniciar um plano de cooperação internacional de programas de pesquisas nacionais sobre a reprodução humana e o controle da fertilidade, programas que abranjam os fatores sócio-econômicos e biomédicos, conforme foi proposto pela Delegação dos EUA em Bucareste.
d) Iniciar um programa de pesquisa estratégico cooperativo internacional sobre reprodução e controle da fertilidade que incluam aspectos médicos e sócio-econômicos, como foi proposto pela Delegação dos EUA em Bucareste
e) Agir de acordo com nossa proposta em Bucareste, colaborando com outros doadores interessados e órgãos da ONU para ajudar os países escolhidos a desenvolverem serviços de planejamento familiar e de saúde preventiva de baixo custo.
f) Trabalhar diretamente com os países doadores e por meio do Fundo das Nações Unidas para as Atividades de População e o OECD/DAC para aumentar a assistência bilateral e multilateral para os programas populacionais.”
(Páginas 19 a 21)

O FNUAP (Fundo das Nações Unidas para as Atividades de População) é sustentado pelo milionário norte-americano Ted Turner, fundador do canal de televisão CNN e co-presidente da Time-Warner, que já desembolsou 8 milhões de dólares a este órgão da ONU, o qual possui projetos em andamento para o que chama de “saúde reprodutiva”. A fundação é dirigida pelo ex-senador Timothy Wirth, diretor da delegação dos EUA na conferência do Cairo sobre População durante o governo Clinton, onde se destacou por suas posições radicais em defender a contracepção e o aborto livre. Também outros milionários já fizeram vultuosas doações (Bill Gates doou 1.7 milhão de dólares “para atividades de controle da população e desenvolvimento econômico”). George Soros e Warren Buffet, coincidentemente, “contribuem com grandes somas a entidades que promovem o controle de natalidade” (Aceprensa, 1998). O livro de Jacqueline Kasun (The War Against Population) contém uma série de dados sobre instituições financiadas por americanos (quando não pelo próprio governo dos EUA) que colocam o controle de natalidade como condição para empréstimos e outros assuntos de ordem econômica a outros países (como a Índia, por exemplo). A tabela a seguir foi extraída desta edição (pg. 221) e mostra os milhões de dólares investidos pelos EUA em toda espécie de redução do índice de fertilidade em alguns anos:

Gráfico

Continuação

Os dados acima apontam os investimentos norte-americanos tanto dentro como fora do país - os primeiros a fim de diminuir o número de pobres, negros e imigrantes latinos (normalmente vindos do México), e os segundos aplicados em toda espécie de programas aos quais já nos referimos. Isto evidencia que esta política de controle, longe de ser atribuída somente ao Estado, deve ser analisada contemplando indivíduos ideologicamente influenciados, que procuram inserir nas pessoas valores que não são valores, e sim mentiras travestidas de verdade. O método de disseminação destas idéias pró-controle, entretanto, possui um teor muito parecido com aquele utilizado por Antonio Gramsci e sua Revolução Cultural, pois as introduz na educação das novas gerações como se fosse algo perfeitamente aceitável, quando na realidade é perfeitamente sórdido.

A manipulação do índice de crescimento populacional, portanto, surge como mais um dos membros do Estado-Leviatã que sufocam o indivíduo a ele subordinado, não tão inocente de todo. No entanto, o pior disso tudo é que ninguém está absolutamente acordado para enxergar os fatos, e quando a sociedade abrir os olhos, corre o risco de não ver mais que um mundo corroído pelo egoísmo e pela aversão ao próprio homem, debatendo-se em uma tentativa inútil de salvar-se.

sábado, maio 27, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Parte IV

Após tais considerações seria conveniente - e até muito normal - perguntar-nos pelos motivos que possuem os Estados para adotar tal política de manipulação. Aqui chegamos a um ponto, porém, em que é necessário que o autor deste texto deixe bem claro que nunca, em momento algum, participou do lamentável sentimento antiamericano, tão comum entre nós. Mas a verdade é mais compulsiva que a pura idéia, e os fatos, como venho tentando demonstrar, gritam mais alto do que qualquer espécie de concepção. A realidade é aquilo que ela é, e quanto a isso podemos espernear, se quisermos, mas não podemos defraudá-la.

Em 10 de dezembro de 1974 o então secretário do Estado Norte-Americano Henry Kissinger elaborara um documento intitulado National Security Study Memorandum 200: Implications of Worldwide Population Growth for US Security and Overseas Interests (Memorando de Estudo de Segurança Nacional 200: Implicações do Crescimento Populacional Mundial para a Segurança e os Interesses Ultramarinos dos Estados Unidos), que foi entregue por meio do Conselho Nacional de Segurança americano ao presidente Gerald Ford. O NSSM 200 foi mantido como confidencial até 1980, quando a Casa Branca desclassificou o documento, que agora pode ser acessado na internet (http://www.providaanapolis.org.br/liminat.htm; http://providafamilia.org/relatorio_kissinger.htm; http://www.defesadavida.com.br/clea_fsm2002.htm).

O Relatório Kissinger afirma que o crescimento populacional dos países em desenvolvimento constitui uma ameaça à hegemonia dos Estados Unidos da América, e defende a difusão nestas regiões dos mais diversos meios contraceptivos: esterilização em massa (tanto em homens quanto em mulheres), anticoncepcionais, preservativos, leuteolíticos, auto-progesterona e DIU’s, além da criação de uma mentalidade contra famílias numerosas. Quanto ao aborto, a questão é colocada desse modo: “Nota especial: Embora os órgãos que estão participando desse estudo não tenham recomendações específicas para propor com relação ao aborto, acredita-se que as questões seguintes são importantes e devem ser consideradas no contexto de uma estratégia global de população: - nenhum país já reduziu o crescimento de sua população sem recorrer ao aborto” (NSSM 200, Pág. 182).

Neste documento também há referências ao Brasil:

"A assistência para o controle populacional deve ser empregada principalmente nos países em desenvolvimento de maior e mais rápido crescimento onde os EUA têm interesses políticos e estratégicos especiais. Estes países são: Índia, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, México, Indonésia, Brasil, Filipinas, Tailândia, Egito, Turquia, Etiópia e Colômbia" (páginas 14/15, parágrafo 30).
"América Latina. Prevê-se que haverá rápido crescimento populacional nos seguintes países tropicais: Brasil, Peru, Venezuela, Equador e Bolívia. É fácil ver que, com uma população atual de mais de 100 milhões, o Brasil domina demograficamente o continente; lá pelo fim deste século, prevê-se que a população do Brasil chegará aos 212 milhões de pessoas, o mesmo nível populacional dos EUA em 1974. A perspectiva de um rápido crescimento econômico - se não for enfraquecida pelo excesso de crescimento demográfico - indica que o Brasil terá cada vez maior influência na América Latina nos próximos 25 anos"
(página 22).

Antes de prosseguir, entretanto, faz-se necessário um breve parêntese para esclarecer algo que vim adiando ao longo de todo o texto: ninguém confunda controle de natalidade com o chamado planejamento familiar. Este nada mais é que o dever de pensar no futuro, próprio e dos filhos, antes de trazer uma criança ao mundo. Resumindo em uma palavra: responsabilidade.

No entanto, o que se observa no quotidiano não é a ausência deste valor, e sim um excesso do mesmo. Ocorre algo parecido com aquelas pessoas que dizem frases do tipo: “você deveria ter mais alto-estima” - e os que realmente se empenham em aumentar sua “auto-estima” conseguem apenas se tornar egoístas ferrenhos. Isto quer dizer que o pêndulo está de um lado, quando as pessoas julgam estar em outro. Uma grande maioria de casais pode ter mais filhos, mas não quer – outros quinhentos, portanto. Aliás, este é o maior problema do assunto: quem pode ter crianças e dar-lhes uma vida digna não o faz, e quem não pode, faz. Mas isto, por óbvio, não justifica as campanhas massivas e a “educação sexual” (com muitas aspas) que o governo desempenha, por exemplo, nas favelas – algo que interfere diretamente na liberdade do indivíduo.

Não se pode afirmar, portanto, que a origem desse mal são os Estados Unidos ou o governo de modo genérico. O relatório Kissinger elaborou diretrizes para aplicações de verbas e o modo de criar uma nova mentalidade no povo mundial, mas este mesmo povo é formado por indivíduos que nunca puderam ou poderão ignorar a própria consciência.

Todavia, a mera leitura superficial desse documento basta para chegar-se à conclusão que os argumentos de “responsabilidade” têm uma origem muito peculiar, e que não são apenas falsos, mas o meio pelo qual se torna mais viável fazer com que a população aceite sem pensar duas vezes algo que é evidentemente estranho à sua própria natureza:

"Os EUA podem ajudar a diminuir as acusações de motivação imperialista por trás do seu apoio aos programas populacionais declarando reiteradamente que tal apoio vem da preocupação que os EUA têm com:
a) o direito de cada casal escolher com liberdade e responsabilidade o número e o espaçamento de seus filhos e o direito de eles terem informações, educações e meios para realizar isso; e
b) o desenvolvimento social e econômico fundamental dos países pobres nos quais o rápido crescimento populacional é uma das causas e conseqüência da pobreza generalizada.”
(Página 115)

Note-se ainda que as colocações do excerto acima são as mesmas utilizadas por aqueles brasileiros que hoje defendem com unhas e dentes o controle de natalidade, e, em especial, de políticos como Marta Suplicy e José Serra. Não é mera coincidência que atualmente qualquer mulher pode conseguir um anticoncepcional gratuitamente em um posto de saúde, tampouco que todos os jovens, no alistamento militar, recebam uma guia informativa sobre doenças sexualmente transmissíveis e, anexo, um preservativo (que também se pode adquirir nos postos de saúde).

O percentual de falha contra a gravidez da camisa de vênus é de 10 a 20%, de acordo com o estudo publicado na revista The Lancet em 27/11/2004, ratificado por 150 experts de 36 países, segundo o qual “os jovens devem ser informados de que o uso correto e sistemático do preservativo reduz o risco de AIDS de 80 a 90%”. Por sua vez, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que “o preservativo reduz, mas não elimina o risco de contágio do HIV. Somente a fidelidade entre um casal estável elimina o risco de contágio”. Imaginem, então, se alguém neste mundo faria um passeio a Disney Lândia na hipótese de uma em cada dez pessoas morrer durante o vôo. Não creio. Ademais, por uma simples conta matemática, conclui-se que se um indivíduo mantiver relações sexuais com um parceiro portador de AIDS por mais de dez vezes, utilizando a camisinha, a probabilidade de que adquira a doença tende a 100%, o que, de fato, é terrível e deveria ser alertado ao público. Mas é ao menos estranho que em plena era da informação poucos estejam conscientes de tais circunstâncias (...).

Ora, a distribuição das camisas de vênus, portanto, apenas mitiga a proliferação da doença, mas aumenta a promiscuidade - um dos fatores que diminuem a taxa de natalidade, pois instiga ao sexo e não às suas naturais conseqüências – e diminui consideravelmente o crescimento populacional. E ainda que se diga que estas são “questões que a ciência há de resolver”, o mesmo não se pode sustentar quanto aos anticoncepcionais mencionados acima. Isto sem falar, é claro, nas massivas campanhas de televisão e telenovelas – as primeiras instigando ao sexo “seguro”; as segundas, propondo um modelo de família com, no máximo, um par de filhos.

segunda-feira, maio 22, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Parte III

Existe ainda uma terceira corrente denominada Econeomalthusianismo. Sob alaridos de proteção ao meio ambiente (o aumento da população estaria acarretando a extinção das espécies e da biodiversidade), seus defensores sustentam que os próprios seres humanos sejam controlados. Esta teoria levou ao impasse do que se chamou Questão Ecológica, cujo principal ativista difusor é uma ONG denominada WWF, a qual, por meio de um trabalho realizado dois ecologistas - Myers e Anderson – afirma que atualmente a extinção de animais é de uma espécie por dia; mas, em 2030, esta relação será elevada para uma por hora.

Novamente, todavia, os fatos são contrários à tese. Em primeiro lugar, porque nem ao menos sabemos quantas espécies de animais existem no mundo. Em 1994, descobriu-se uma nova espécie de pássaro na Europa e, em 1998, duas espécies de mamíferos na Indochina. Em segundo lugar, porque esta ONG é sustentada por fundos públicos, isto é: sem alarmismo não há repasse de verbas.

A quarta teoria que pretende fundamentar o controle de natalidade é o Desenvolvimentismo, cujo raciocínio pode ser expresso nos seguintes termos: sendo a renda per capita a relação do Produto Nacional Bruto dividido pelo número de habitantes do país, e, considerando como excelente o crescimento do PNB em uma porcentagem que varia de 2% a 5% – meta que é mitigada pelo fato de que a população cresce de 1% a 6% – a solução mais pragmática seria diminuir a população ou, ao menos, estagná-la. O erro, contudo, está em que a solução é exatamente isto: pragmática; falta-lhe a vertente humana. Além disso, se o que conta é apenas o proveito econômico que a pessoa produza ou possa produzir, seria mais coerente, pela mesma dedução, ao invés de impedir a geração de novas pessoas, eliminar as mais velhas. Aquelas são potencialmente mais favoráveis à economia, enquanto estas se tornam, na medida em que passa o tempo, um fardo econômico ambulante. Mas isto ninguém aceita, embora por motivos meramente sentimentais, afetivos – e não racionais. Se considerada verdadeira a premissa maior, e analisada a situação com frieza, não há contradição que desaprove o silogismo.

Em verdade, todas essas posições estão profundamente influenciadas por correntes ideológicas. Malthus escreveu seu livro quando o Liberalismo Econômico inglês de Adam Smith estava a todo vapor. Havia, por essa época, mais mão de obra do que a Inglaterra necessitava, e também mais pobres do que alguns suportavam. Todas as outras fundamentações são decorrências e variantes desta, enraizadas pelas mais diversas ideologias, como o materialismo/pessimismo, o economicismo (a salvação através da economia) e o ecologismo (com a sua mais profunda convicção panteísta), cujo maior representante é a Organização das Nações Unidas. Isto, é claro, sem falar em instituições que financiam o controle de natalidade como a IPPF (International Planned Parenthood Federation), uma Organização Não-Governamental que é sucessora da Eugenic Society (...).

sábado, maio 20, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Parte II

Na realidade, grande parte das pessoas ainda acredita erroneamente na teoria de Malhus porque tem por base a (ultrapassada) pirâmide de idades. O gráfico abaixo é um modelo trasladado de uma enclopédia e que acompanha, de forma mais ou menos perfeita, todos os livros de Geografia do Ensino Brasileiro quando comparam dois países, um "em desenvolvimento" e outro desenvolvido, respectivamente. As regiões da base e do topo da pirâmide significam populações não economicamente ativas; a economia do país é sustentada pelas regiões intermediárias, que precisam ser capazes de sustentar os indivíduos das extremidades:

Gráfico

Continuação

Observe-se, contudo, que o gráfico posto à direita oferece três conclusões alternativas, uma vez destacada a região de 0 a 34 anos – ilações estas baseadas no fato de que há uma queda abrupta do número de indivíduos na faixa que vai de 15 a 19 anos, normalizada novamente depois. A primeiras delas é que tenha ocorrido uma epidemia generalizada, dizimando parte destes jovens (esta é para rir, claro). A segunda é que houve uma época em que os pais resolveram ter menos filhos, seguida de outra época em que quiseram voltar a tê-los. Mas isto, obviamente, pressupõe uma orientação de qualquer parte, e muito provavelmente uma verdadeira campanha contra a natalidade seguida por uma outra a favor dela. A sociedade não se dispõe a ter menos bebês de modo tão repentino assim a não ser pela adesão a alguma proposta, especialmente quando isto influa em algo que interfere diretamente na intimidade do homem - o seu direito de procriação. A terceira conclusão, baseada na anterior, impõe-se no sentido de que é simples controlar a taxa de crescimento populacional, e aumentá-la ou diminuí-la quando for mais conveniente, instituindo um sistema cíclico.

A realidade é bem outra. Em 28 de fevereiro de 2001, a Divisão de População da Organização das Nações Unidas (a contra senso, uma das maiores incentivadoras do controle do índice demográfico) publicou um relatório em que prevê que aproximadamente 90 % dos habitantes do planeta viverão em países pobres e o Ocidente precisará de 100 milhões de imigrantes para manter a sua população economicamente ativa. É o que diz o documento: “atualmente, há 64 países (que têm 44% da população mundial) com taxas de fecundidade insuficientes para garantir a reposição de gerações (mínimo de 2.1 filhos por mulher). A fecundidade média mundial baixará de 2.68 (hoje) a 2.15 filhos por mulher (2050). A taxa continuará descendo nos países em desenvolvimento e subirá nos ricos, mas não o suficiente para atingir o patamar de reposição. Os países menos fecundos serão Alemanha e Itália (1.61), seguidos por Espanha (1.64) e Áustria (1.65)” (Aceprensa, maio de 2001).

O processo de elevação da taxa de natalidade é bem mais complicado e lento do que obter resultados com uma campanha de redução deste mesmo índice. O problema todo é que ninguém vai às últimas conseqüências quando se estuda este tipo de situação. O produto mediato de um controle sobre a taxa de natalidade é um grave recesso econômico que se segue a um período de fartura. Grande parte região central do segundo gráfico “sobe” até o topo (a razão principal disso é o aumento da expectativa de vida), e o que ocorre é um crescimento desproporcionado da população não economicamente ativa. Mas, quando o governo finalmente abre os olhos, já é tarde demais para frear o processo.

Outro dos postulados dos que defendem o controle de natalidade é aquele que se baseia no argumento segundo o qual na hipótese do número de habitantes de certo país elevar-se de forma descontrolada, pode não haver mais espaço para todos e, a bem dizer, a Terra já se aproximaria do limite de saturação de homens. Bem, este tipo de colocação deveria entrar para o rol de piadas do século: se fizéssemos a conta de quantos quilômetros quadrados ocupa toda a população mundial em pé, verificaríamos que este espaço é de 12.000 km², ou seja, um quadrado de lados de 110 km, o que é menor que a cidade de São Paulo (isto considerando que cada indivíduo ocupa, em pé, 2 m², o que é muito, evidentemente). No planeta, ainda há espaço “para dar e vender”.

quarta-feira, maio 17, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Parte I

A primeira das teorias que defendem a redução dos índices de fertilidade populacional foi elaborada por um clérigo anglicano do século XVIII chamado Thomas Robert Malthus, muito conhecido por sua tese de que a população cresce em proporção geométrica, enquanto que os alimentos são produzidos em proporção aritmética (Ensaio sobre o Princípio da População, 1798). O resultado lógico destas premissas perfaz-se na atemorizante idéia segundo a qual tempos virão em que não haverá maneira de alimentar a todos os seres humanos, restando demonstrada, portanto, a necessidade de um controle sobre o crescimento da população mundial.

Mas a História se encarregou de contradizer a teoria malthusiana. De fato, o advento da Revolução Agrícola trouxe consigo o surgimento dos adubos químicos, dos agrotóxicos, do milho híbrido e do trigo melhorado, utilizados pelo que passou a se denominar agricultura intensiva, levando a produção de alimentos a um crescimento geométrico. Daí a desnecessidade do controle.

Mesmo assim, a nova teoria foi reformada por um grupo de intelectuais, dando origem ao Neomalthusianismo, que consiste basicamente na seguinte afirmação: os recursos naturais são escassos, e o aumento populacional há de levá-los ao limiar do esgotamento e a uma conseqüente crise econômica mundial. Logo, torna-se necessário manter a taxa de natalidade em 2.14 filhos por casal, que é a média ideal para reduzir a zero o crescimento da população. Esta sustentação foi ainda reforçada pelo chamado Clube de Roma, que em 1975 lançou a obra The Limits to Growth, em que se enfatiza o argumento segundo o qual não se pode ter em conta apenas os recursos, mas também as suas interações (por exemplo, as brocas que são necessárias para a extração do petróleo, para a fabricação das quais se utiliza um metal raro). Considerando o crescimento populacional geométrico, o Clube de Roma previa que o fim do mundo estava marcado para 1992 (...).

O primeiro economista que contrariou esta tese foi Axel Kahu, diretor do Hudson Institute. Suas considerações, após um longo e detalhado estudo, foram de que, na verdade, a definição da escassez de um produto particulariza-se segundo seu preço, e este é relativizado pelo poder de compra da população. Ora, se o número de habitantes aumenta, o custo do recurso cai (uma relação inversamente proporcional). Também o número de jazidas cresce, pois a extração se torna mais viável e o seu preço é compensado. Na realidade, para a economia as únicas coisas que não podem vir a faltar são o silício, o calcário, o carbono e o ferro: em termos econômicos, os recursos não têm valor em si, mas na medida em que desempenham a sua função. Quando surge um recurso que exerce a mesma atividade de outro, há a substituição deste, e o melhor exemplo brasileiro disso é o Proálcool. Axel Kahu elaborou um gráfico no qual se verifica que a maior relação entre o preço dos recursos não renováveis e o poder aquisitivo da população mundial até 1980 verificou-se na década de 50, quando o mundo presenciou o baby boom.

Mas há ainda a velha tese do “bolo que é repartido”, muito difundida por todos os livros de Geografia do Ensino Fundamental e Médio no Brasil. Pode-se resumi-la no seguinte raciocínio: considerando que a Terra produz atualmente uma quantidade X de alimentos, e mesmo assim há pessoas que passam fome, se o número de indivíduos chegar ao nível de uma superpopulação haverá uma crise de fome que os homens jamais presenciaram na História. Esta posição malthusiana, não obstante a própria Revolução Agrícola (e o surgimento da agricultura intensiva, portanto) haver provado o oposto, tem sido amplamente veiculada ainda nos dias de hoje.

Um dos únicos economistas que foram contra esta corrente (hoje não mais aceita pela maioria dos estudiosos no assunto) foi Julian L. Simon (1932-1998), também pertencente ao Hudson Institute, e que resolveu o assunto nos seguintes termos: a idéia do bolo que é dividido entre muitos é simplesmente falsa, pois as pessoas também são produtivas. Ora, se 2.500 pessoas comem, 300 produzem bolo, e haverá bolo o bastante para uma festa.

Uma semana antes de falecer, Julian Simon foi à Espanha para receber o título de doutor honoris causa pela Universidade de Navarra, onde concedeu uma entrevista reproduzida no jornal espanhol Aceprensa, na qual declarou, entre outras coisas, que “em relação à disponibilidade dos recursos naturais, não há evidência científica de que estejam limitados. A medida da escassez é o preço (isto é uma regra básica da economia), e os preços de todos os recursos naturais caíram. Em 1973, com a crise do petróleo, a maioria dos recursos subiu de preço, mas depois voltou a baixar e está abaixo dos níveis anteriores.” Em outra parte da entrevista, Julian continua: “Em relação aos economistas que tratam da população, existe um consenso sobre o fato de que um aumento da população não afeta de modo negativo o crescimento econômico. Pessoalmente, vou um pouco mais longe ao afirmar que este aumento não só não é negativo, mas é positivo. À maior população, corresponde maior e melhor situação econômica. E com isto alguns não concordam. Em geral, os economistas destas matérias estamos de acordo. Atualmente eu pertenço à maioria”.

Outro defensor mais recente das mesmas idéias foi Peter Bauer (1915-2002), professor de Economia da Universidade de Cambridge e da London School of Economics, autor do ensaio “Crítica da Teoria do Desenvolvimento”, que em uma conferência sobre População, desenvolvimento e meio ambiente esclareceu que “atualmente, as grandes fomes ocorrem principalmente em regiões com economias de subsistência e escassa densidade populacional, como Etiópia, Tanzânia, Uganda e o Congo. Nesses países a terra é abundante e, em algumas regiões, gratuita. A recorrente falta de alimentos nesses e em outros países em desenvolvimento reflete traços de economias de subsistência, como a vida nômade, os cultivos intermitentes e a falta de meios de transporte e de armazenamento. Essas condições se agravam pela instabilidade política e pelas restrições oficiais ao comércio, ao movimento de produtos agrícolas e às importações de bens de consumo e de recursos financeiros para a agricultura. Por último, os mais pobres podem sofrer duras privações se alguma catástrofe reduz repentinamente a sua renda disponível. Nenhum desses fatores, entretanto, têm relação com o crescimento populacional”. A relação território-população, portanto, nada tem com o nível de desenvolvimento de um país. A China e a Índia, a título de exemplo, possuem um quociente território-população maior do que a Holanda e a Alemanha.

terça-feira, maio 16, 2006

Controle Populacional: o que há por trás da cortina de fumaça? - Introdução

“The idea that humanity is multiplying at a terrible and accelerating rate is one of the false dogmas of our times. From that notion springs the widely held belief that unless population growth is immediately contained by every governmental and private method imaginable, mankind faces imminent disaster. These ideas form the basis for an enormous international population-control industry that involves billions of dollars of taxes as well as the full time efforts of scores of private philanthropies. Embodied in their agenda is the sort of social planning that actually mandates draconian control over families, churches and other voluntary institutions around the globe.”


(The War Against Population, Jacqueline Kasun)


Deveria causar uma certa surpresa em qualquer um o fato de que as pessoas são, por vezes, demasiadamente crédulas e, ao mesmo tempo, céticas terríveis. Pode-se vacilar diante de coisas que não são evidentes por si mesmas, porque isso faz parte do processo cognitivo humano, mas o estranho é haver indivíduos que duvidam precisamente porque crêem, sem aparentes motivos, em que a realidade é aquilo que eles acham, ainda que ela grite aos quatro ventos que não é assim. Ora, os fatos, via de regra, são mais complicados do que aparentam: explicar a trajetória dos raios solares até a Terra é mais complexo do que apenas aceitar que a luz existe. O cosmos carece desta trivialidade infantil, e a própria ciência é testemunha de que ele mais se assemelha a um emaranhado de fita cassete que queremos a todo custo desembaraçar para ouvir a música – a música dos anjos, talvez.

Ao que parece, contudo, ainda existem pessoas que negam esta asserção da mais básica obviedade, e pretendem explicar toda uma intrincada rede de acontecimentos com uma forte e ingênua idéia, colocando fora de suas considerações uma gama enorme de coisas. Com efeito, os reducionismos argumentativos exercem sobre intelecto do público incauto um forte atrativo sedutor, comumente amplificado pelo fato de que eles raramente – ou quase nunca – são elaborados em detrimento daqueles que os defendem. O próprio nazismo, caro leitor, não passou de uma burra, sedutora e – porque não dizer? – engenhosa idéia: “os culpados pela derrocada alemã foram os judeus”. A partir daí, vieram todos os horrores do holocausto.

Felizmente, entretanto, o tempo sempre se encarregou de demonstrar o absurdo de certas teorias, muitas vezes forçando a humanidade a reconhecer sua pouca inteligência. Do apartheid ao fascismo, do arianismo à União Soviética, o fato é que não podemos mais ignorar o clamor dos milhões de mortos, que nos convocam a sair de nossas ilusões. A História vem como a chuva, limpando os vidros para que vejamos com mais nitidez aquilo que antes não era possível.

Ainda assim, como é natural, se nem todos têm consciência da falsidade de certos argumentos simplórios, nem toda a cortina de fumaça que os envolve foi dissipada. Muitos deles, que tiveram nascedouro ao longo do século XX, permanecem ainda hoje como baluartes da opinião geral – dita pacífica, mas que nem sempre o é –, nada mais que a velha doxa grega. E um dos maiores exemplos pode ser encontrado precisamente nas afirmações utilizadas para justificar a necessidade do controle de natalidade, algo considerado indiscutível pela communis opinio, e que, todavia, esconde por detrás de seus raciocínios os mais diversos sofismas, simples e convincentes como os algodões doces, e como eles, frágeis ao mais leve toque de saliva. Vejamos.

domingo, abril 16, 2006

A casa do tempo perdido

Drummond

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.
O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

sexta-feira, abril 14, 2006

Simplesmente Cristianismo

Já dizia um sábio que os melhores livros estão comendo poeira nas prateleiras dos sebos. De fato, é uma pena que certas obras primas estejam fadadas a dois destinos: passar um bom tempinho cozinhando em banho maria até que um leitor perspicaz descubra um tesouro entre as mãos ou, o que é mais comum, não ser reconhecida nunca.

Mero Cristianismo é um desses clássicos que por uma fatalidade inexplicável não se tornou um clássico. Creio, porém, que podemos conjeturar algumas hipóteses sobre o porquê disto: a primeira, que sendo Lewis de religião anglicana o livro não atraia o público cristão restante; a segunda, que tratando o livro de um tema cristão, não desperte o interesse daqueles que não acreditam em Cristo ou que simplesmente não crêem em nada; a terceira, que o próprio título afaste o leitor por um motivo, literalmente, de mera semântica: a palavra mero pode assumir um significado pejorativo que lhe cause repulsa.

Contudo, o “mero” a que C. S. Lewis se refere não possui nenhuma conotação negativa, antes pretende transmitir a idéia do Cristianismo como um todo; aquilo em que todas as religiões cristãs convergem. Melhor seria, portanto, se o título original “Mere Christianity” fosse traduzido por “Simplesmente Cristianismo”, pois assim se evitariam certos desdéns que acaso o leitor pode ter à primeira vista, como a primeira edição em língua portuguesa ambicionou fazer traduzindo-o por “Cristianismo Puro e Simples”.

Mas a obra não é apenas destinada a um grupo restrito de crentes. Arrisco dizer que um agnóstico pode desfrutá-la sem que isto lhe provoque nenhuma crise de “fé” - dependendo, é claro, do tamanho desta “fé”, porque os argumentos dos quais se utiliza Lewis são de uma clarividência gritante. Mero Cristianismo é mais que um livro religioso - é um ensaio de filosofia, uma explicação do motivo pelo qual os cristãos crêem e as conseqüências ascéticas que derivam disto. Quer dizer, se você não acredita em que Jesus Cristo é Deus e homem, isto de maneira alguma deve impedi-lo de ler o livro, pois ao final da leitura ao menos saberá o porquê de suas reservas quanto ao Cristianismo. Por outro lado, se você é católico não tem com o que se preocupar. Digamos que para a conversão de Lewis à Igreja Católica Apostólica Romana faltou realmente muito pouco - um pequeno salto, em que pese a orientação de seus amigos católicos como J. R. R. Tolkien.

O prefácio da edição brasileira por Henrique Elfes é bastante elucidativo quando anota que Mero Cristianismo “É uma das obras centrais e mais populares de C. S. Lewis. Dirige-se primariamente a um público descristianizado em ampla medida, a esse ‘homem moderno’ que recebeu uma certa cultura científica na escola e na Universidade, mas pouca ou nenhuma cultura humanística ou teológica.”

Alguns capítulos do livro são realmente geniais. Para aqueles que nunca acabaram por entender completamente o que significa o Direito Natural indico os três primeiros capítulos, “A Lei da natureza humana”, “Algumas objeções” e “A realidade da Lei”. Neste mesmo contexto insere-se o primeiro capítulo da Parte III, “As três partes da Moral”, que é de uma lucidez incrível. Por fim, ainda na parte III destaca-se o capítulo VIII, chamado “O grande pecado”, que trata sobre o problema do pecado raiz de todos os pecados: a soberba ou, se preferirem, o orgulho.

Finalmente, para aqueles que se interessem em adquirir o livro, Mero Cristianismo foi lançado pela editora Quadrante de São Paulo.

quarta-feira, abril 12, 2006

Nascuntur poetae, fiunt oratores

– Os poetas nascem, os oradores se fazem.

sábado, abril 01, 2006

Lição de Modelagem

A Affonso Arinos Filho

Old Library, All Souls,
Advento de oitenta,
oitenta e um; alguém
passa e me cumprimenta,
já não recordo bem
se deixa a sala ou entra:
estou pasmo entre o Nada
e o Espírito, o Nôus...
Já quase de madrugada,
lendo Santo Irineu
sinto-me estupefato!
Confronta-me um retrato
da humana imperfeição
tão terno e tão exato
que corta o coração,
pelo menos o meu:
músculo de um ofício
de doidos, o impropício
arremedo de Orfeu,
outra vez desconfio
da maneira tranqüila
com que balança, oscila
para-lá-para-cá,
paráfrase do fio-
de prumo- no vazio
“ entre o orgulho, a argamassa
e o sonho do edifício”
diz-nos Santo Irineu.
E diz mais! Diz que a graça,
essa isca do Cristo,
depende do exercício
de uma certa omissão
por parte da criatura,
que é preciso omitir-se
com mais desenvoltura...
Agora escutem isto:
como se não bastasse,
com uma tal novidade,
julgo entrever a face
do santo lá na altura
a vigiar-me e rir-se
com justa hilariedade
dessa alucinação!
Redebruço-me, sério,
sobre o velho volume
em tinta de Nankim,
com dobras de marfim
numa capa rugosa,
aspiro-lhe o perfume
de tempo, de mistério,
e recomeço a ler.
Admiro-lhe a prosa,
mas que me diz? Que fé,
caridade, esperança,
e o que ante o precipício
sustenha a alma de pé,
dependeriam até
de algo ainda mais difícil
de obter e manter...
- E isso agora, o que é?
desafio-o em voz alta,
e o santo não se priva
de chamar à alma “a altiva
e pobre soberana...”
Cheio de cortesia
e paciência, diz
que a coitada se engana,
que o que mais lhe faz falta
é uma desconfiança,
que a criatura é infeliz
porque não desconfia!

II

Sim, mas naturalmente
do erro, da heresia,
de que esta vida é triste
porque a carne é doente,
digo-lhe (ou penso) eu;
e aí Santo Irineu
ri-se outra vez e insiste
que não é isso, “ é quase...”
Já na próxima frase
insinua a noção
de que, afora o poltrão,
só o tolo resiste
a uma outra solução
bem mais simples: saber
viver, morrer um dia,
enfim dependeria
apenas de aceitar
de todo o coração
cada fraqueza humana
(como uma elocução
do drama da razão,
digo-me eu, da arcana,
doce e cotidiana
agonia da luz...).
Há o pânico da Cruz
que nos pesa no dorso
e não poupa ninguém,
é claro, mas também
há uma ideologia
que glorifica o esforço,
há um terror de errar,
especialmente o medo
de não acordar cedo!
Com a mais fina ironia
e toques de poesia,
aquela pena aos poucos
vai bordando entre os loucos
arroubos da criatura
uma noção mais leve,
mais doce, da aventura,
da alma, esse caroço
enfurnado no poço
do orgulho, entre as loucuras
da mente... O santo escreve
seu agudo compêndio
para apagar o incêndio
da heresia, mas ri-se
da suprema tolice
do ser, dessa premura
em aperfeiçoar,
não a alma: “ a carcaça
que aloja essa criança”
( diz ele) cujo lar
ela põe-se a arrumar
quase sempre demais,
até que o destrambelha
e lhe cai outra telha
na cabecinha oca;
que a alma durma de touca
pois muita ascese cansa,
diz e rediz o santo;
mais vale por enquanto
deixar a carne em paz,
não tentar encaixar
cada coisa em seu canto,
mas calmo, quieto, mudo,
pôr-se a desconfiar
de si mesmo e de tudo.

III

Desconfiar do vício
de viver como o ateu,
que ainda não entendeu
que a vida não é a soma
ou a multiplicação
do esforço pelo ato;
o ato de quem toma
vitaminas diárias
para fortalecer
pela musculação
as pobres alimárias
do arcabouço do ser...
Que não é nada disso
o bom homem me disse
numa sala vazia,
numa biblioteca
cheia de velhos lenhos
e belos pergaminhos:
disse-me que o caminho
de quem resiste aos demos,
mas assim mesmo peca
por conta dos extremos
em que a alma balança
e vai que nem peteca
no ar de não em não ;
que a melhor solução
para quem viva assim
é largar dos disfarces,
cair fora da dança
antes que chegue ao fim,
e enfim resignar-se
(quem diria!) a pecar
antes por omissão!
Omitir os enganos
do culto da razão,
que quer a perfeição
como carpintaria;
omitir-se de amar,
como um peso nos ombros,
as solenes vitórias
do asceticismo brutal
sobre os pobres escombros
da carne natural;
omitir-se das glórias
de alcançar, que não passam,
por isso, de vanglórias
entre a página breve
e a mão de quem a escreve
entre os vermes e as traças.
Ir omitindo tudo,
ir omitindo tanto,
o lamento, o acalento,
a elegia e o louvor,
que, omissa até o absurdo,
a alma torna-se leve
viração no arcabouço
do corpo, dessa argila
que miniatura abismos
no desenho dos ossos
e dos nervos, grafismos
de bom desenhador...

IV

Quanto à soma intranqüila
de tudo o que sobrar
do que não conseguimos aperfeiçoar
(não por falta de estímulo,
mas por desconfiar
da perene ambição
de sermos nós os nossos
melhores arquitetos),
tudo aquilo não passa
de indiferença à graça,
na pompa e na soberba
dos sonhos do intelecto
que se presume autônomo
e, agindo como tal, acaba por supor
em si mesmo o fiscal
do seu próprio labor,
da sua inania verba,
do seu louco metrônomo,
da sua fruta acerba,
ou seca como o erro
do orgulho no desterro
de uma biblioteca.
Em sua apologética,
seu humilde serviço
ao nosso entendimento,
o santo diz ( e como!)
que o espírito enfermiço
não tem desconfiômetro,
pois tudo, tudo isso
cabe num só momento;
que existe outra maneira
de conceber o fruto
do sonho que minuto
a minuto a alma tece;
que basta não pedir
nem de nós nem da mão
que nos vai esculpindo
segundo por segundo,
mais que a resignação
e o acaso do projeto,
geométrico e lindo,
mas cego, do intelecto
que pensa que conhece
sempre de antemão
resultado e intenção.
Basta não resistir
e deixar-se esculpir,
amolecendo os ângulos
e trocando os retângulos
da vontade, sincera
mas quase sempre errada,
pela entrega encantada,
serena, da matéria
à alma luzidia
e ao gesto do Escultor ,
ambos puro mistério.

V

Inverno ou não Inverno,
a luz das madrugadas
em Oxford é mais fria
do que os gelos eternos
e aquela aquele dia
era das mais geladas;
inclinei-me a cadeira
um pouco para trás,
contemplei os vitrais
que a deixavam passar,
depois a cumeeira,
e, como disse antes,
vi (ou sonhei que via)
Santo Irineu jogar
lá de cima os brilhantes
de uma luz que caía
vívida como a lava
sobre o último breu
de uma sala vazia.
Voltara a última página
de Adversus Hereses
e, já que delirava,
imaginei o bom,
o sutil Irineu
feito bispo em Lyon,
pregando aquela tese
ante uma diocese
repleta de pagãos.
Revi-lhe quase as mãos
afinando o instrumento
como a apurar-lhe o tom,
e pensei que, a um momento
de desfalecimento,
por conta de um cansaço
em tudo igual ao meu,
um dia aquele homem
rodeado de loucos
havia com certeza
abandonado a mesa
,sacudindo os braços
pesados de saber,
quase que sem querer
esbarrara nos ocos,
nos vazios do ser;
vi-o diante de mim
como lia o seu nome
naquele pergaminho
e, olhando para os lados,
disse-me bem baixinho:
- “É uma bênção que a voz,
tão cheia de cuidados
de um venerável monge,
venha-nos de tão longe
consolar-nos a nós;
é doce ouvi-lo assim,
irônico, cansado,
metamorfoseado
em livro com desenhos
e capa de marfim,
mas tão pouco mudado
quase estes velhos lenhos
que ainda são como a árvore...”

VI

Pelo intenso fulgor
com que a luz se estendia
sobre as vigas e mármores,
suspeitei do outro lado
um dia ensolarado,
uma ocorrência rara
lá por aquelas bandas;
pensei ir à varanda
certificar-me, quis
erguer-me e não podia:
no brilho, no verniz
dos velhos assoalhos
a luz daquele instante
fazia como o orvalho,
cada gotinha clara
imitando um diamante
caía saltitante,
corria um tanto a esmo
e logo recobria
de uma tapeçaria
de ouro vivo até mesmo
o mais puro, o melhor
mármore de Carrara.
Bem um quarto de hora
olhei aquela sala,
o que lhe acontecia;
mesa, poltrona, estante,
eu sabia de cor
forma, textura e cor
de tudo ao meu redor, e ainda assim agora
vivia uma das cenas
mais belas deste mundo:
olhava lá do fundo
toda a extensão da sala,
no entanto via apenas
uma espécie de opala
salpicar-se de prata,
de ouro branco, de amor...
- “A aurora é como a Lei
( pensei um tanto à toa),
frágil como a garoa,
é ao mesmo tempo o manto
e a coroa do Rei...”
Quando me levantei
e fui repor o santo
na posição exata
em que o havia encontrado,
deti-me junto à estante
e, a ponto de ir-me embora,
fiz o Sinal da Cruz
louvando aquela luz,
o fogo delicado
da mais suave ancila
entre a variedade
das que da eternidade
obram pelo Senhor.
E das dobras da mente
às espirais do umbigo
alguém falou comigo:
- " A graça é como a aurora,
a cada dia invade
este lugar antigo
silenciosamente,
não como quem melhora
uma sala tranqüila,
como quem modifica
a grave majestade
de uma biblioteca
tornando-a ainda maior.
A alma, por pior
que se esforce, só peca
quando se petrifica...”


O mundo como Idéia --- Bruno Tolentino